Fui forçado a mudar meu trajeto
do trabalho para casa. Não tive escolha. Fui transferido para outro setor, no
Juvevê, e logo em seguida meu antigo setor também foi transferido para outro prédio,
no Centro. A Mariano Torres passou a ser uma via infrequente para mim.
Antes, passava pelo trecho entre
as imediações da Rodoferroviária e o Passeio Público duas vezes por dia,
praticamente todos os dias. Sempre pela pista da esquerda. Meu “caminho da
roça”!
Na quadra entre as ruas Comendador
Macedo e Benjamim Constant, até o ano de 2007, havia um grafite que me chamava
a atenção. Era a figura de um jovem com as mãos nos bolsos que indagava: “Você se enche de várias coisas e ainda
continua vazio?”
Todas as vezes que passava por ali,
o grafite me chamava e pedia: “Ei,
fotografe-me”. Parece que o jovem personagem já conhecia as intenções do
seu criador. Eu não costumo carregar a câmera no carro e meu celular era bem
limitado em matéria fotográfica. Demorou, mas num dia de 2007 aconteceu de eu
estar com a câmera no carro e parar em frente ao grafite: clique!
Continuei a passar por lá e a
dialogar com aquele jovem, ainda por algum tempo, alguns meses... A cada vez,
tentava uma resposta, mas ele mantinha as mãos nos bolsos e a pergunta que ressoava,
simples e direta! Às vezes, insistia numa resposta já tentada, e o resultado se
repetia. Houve dias em que agradeci pelo trânsito estar fluindo a ponto de não
dar tempo de nada além de um “olá!”, e outros em que amaldiçoei a lentidão que
me obrigava a encarar aquele personagem que ficara já meu amigo e a enfrentar
sua pergunta.
Até que um dia, em 2008, não
encontrei meu amigo no ponto habitual. Em seu lugar, havia outro personagem, de
outro grafite... Ao invés da pergunta que animou minha amizade anterior, havia
uma resposta... pretensiosa, que não cabia nas minhas indagações. Não
simpatizei com o novo personagem, que também já foi substituído, e nem com seu
substituto, pois este também quis me impor uma resposta, ainda que indireta,
sem saber das minhas indagações. Não fico amigo de gente assim!
Por isso não me importei em ter
que mudar de trajeto quando fui transferido, no ano passado. O indagador era
meu único amigo naquele trecho, com suas mãos nos bolsos e sua pergunta. Faz
tempo, já.