Já quase no fim

Já quase no fim,
e a gente de novo inventa.
Outros sonhos, sim!

Papéis de presente

Papéis de presente.
A capa do caderninho
em cores brilhantes.

Mãe

Plantei um pé de café.
Isso foi feito pra ela.
Ela gostou, tenho fé.
Teve uma foto, tão bela!

Teve também flor no pé,
e fruto em cor amarela.
Até colheita, pois é,
e torra feita em panela.

Cortei, depois que ela foi.
Era tão triste saber
que ela não ia mais ver.

Hoje, a saudade diz oi,
tomo um café na cozinha
e planto os pés na poesia.

O sangue quente já cheira

(para Dalton Trevisan)

O sangue quente já cheira,
e o gosto estranho da vida
ocupa a página inteira.
O tal Vampiro, na lida.

Os sonhos ao largo

Os sonhos ao largo,
a noite em plena atenção. 
Chuva e pensamentos.

Mesmo que seja explorado

(eleições nos EUA)

Mesmo que seja explorado,
e pague o conforto alheio,
o capacho doutrinado
grita MAGA e pede arreios.

Um livro nas mãos

Um livro nas mãos.
As ideias na cabeça
e o mundo nos pés!

Bem pior do que parece

(sobre a eleição em Curitiba)

Bem pior do que parece,
essa escolha sem escolha
em que a luz desacontece
e nas sombras cresce a trolha.

Sem pai nem mãe

Sem pai nem mãe.
Uma expressão antiga
é desafio.

Ao contar aniversários,
a soma não é igual.

A noite mais longa

A noite mais longa.
Os sonhos também se esticam
sob o edredom.

Chove, chove

Chove, chove...
A pequena poça
e o pavor.

Um estouro!

Um estouro!
Os interruptores
inativos.

Noite enluarada

Noite enluarada.
O silêncio interrompido
é de outro lugar.

Céu aberto

(Para Lorena)

Mirabolâncias no olhar
enquanto as nuvens passeiam
enquanto o vento trabalha
e enquanto você não sabe
o que afinal representa
o que não te diz respeito

As formas surgem e vão
você procura um padrão
que contenha algo de novo
e que tenha explicação
e que sirva de resposta
à dúvida não formada
ao silêncio repetido
cada vez mais confissão

(Algumas vozes distantes
em conversas indistintas)

Tudo é grande
     vasto
     e belo
e mesmo assim não te serve
e a procura é retomada

Então
     um toque de mão
toca em mais que a tua pele
vai fazendo ligações
entre as células do corpo
e se afunda no teu ser
e te traz um arrepio
e te expande
     e te resume

Haibun de despedida

(para meu pai)

Cirurgia, quimioterapia, a falta da companheira que foi antes. Ele, que passou a vida na viração, atrás de uma solução, decifrou uma espera, a última espera.

Aumenta outra vez
a coleção de saudades.
Fria madrugada.

Ruim de lembrar

(8 de janeiro)

Ruim de lembrar.
Mas, tamanha estupidez,
pior é esquecer.