Aquilo
que é sentido. O que dá sinal e indica algo prestes a acontecer. O
que é dito ao médico para descrever uma suspeita de doença. O
antes do diagnóstico.
Há
muitas definições possíveis para “sintoma”. Mas não é
preciso abrir o dicionário para se saber do que se trata.
E
os sintomas estão por aí. Em nós e ao nosso redor. Nas pessoas com
quem conversamos. Naquelas em quem confiamos e nas que não
confiamos. Os sintomas são algo tão humano quanto universal. E nós
não conseguimos nos livrar deles. Podemos até achar que sim, mas
sabemos que não.
Eu
particularmente tenho convivido com uma sensação de mal-estar já
quase antiga. Quase acostumada. Quase esquecida.
Esta
sensação resolveu me acordar.
E
então percebo que, na melhor das hipóteses, tudo está pior. Tão
pior que não quero (não consigo) falar das coisas mais importantes.
Sequer pensar nas coisas mais importantes.
Acho
que é por isso que tenho pensado tanto na política, na economia,
nas maluquices do poder. Na insanidade eleita para ser guia do nosso
cotidiano.
Queria
reformar esta condição, mas tudo o que consigo é sua deformação.
Pelo
menos, se servir de consolo, dei-me conta disso.
Assim,
abro esta crônica para falar de um sintoma de menor importância: a
sensação de que seremos quase todos violentados por uma reforma nas
nossas expectativas de envelhecimento, que já nem eram tão
estimulantes!
Parece
que os trovões indicam não apenas uma tempestade lá na frente, mas
uma que está no nosso encalço, bafejando em nossa nuca. Pois,
apesar dos discursos ufanistas, as notícias não deixam dúvida:
aumenta o desemprego, aumentam os preços, há censura e déficit no
comércio internacional...
Não
se trata de estimativas ou projeções. Este tipo de coisa já é
notícia!
E
uma coisa que em outros tempos seria notícia de grande impacto, as
expectativas do mercado, retratadas na pesquisa divulgada pelo
Boletim Focus, do Banco Central, já não tem importância e é
matéria publicada quase no rodapé do noticiário.
Por
isso, falo desta pesquisa também. Afinal, esta não é uma crônica
sobre coisas desimportantes?
Esta
pesquisa revela, por exemplo, que as estimativas do mercado para o
crescimento do PIB são decrescentes. E, outro exemplo, que as
estimativas para o aumento dos preços são crescentes. E, para
provar a falta de importância destes sintomas, demonstro que as
tendências destas estimativas mudaram de direção a partir da
divulgação da proposta de emenda constitucional de reforma da
previdência elaborada pelo atual governo. Veja na figura abaixo. Os
gráficos foram extraídos do Relatório Focus de 26/04/2019. As
indicações dos pontos referentes à divulgação da PEC nos
gráficos são intervenções deste cronista.
Mas
chamo a atenção e reitero que são sintomas desimportantes. Nada
disso se encaixa no discurso em vigor.
São
meras especulações sintomáticas!
Talvez
lastreadas em visões igualmente desimportantes, como, por exemplo,
de se considerar que o que está sendo chamado de “economia”
possa ser apenas um enxugamento de renda, cuja maior parcela seria
destinada ao consumo. Ou então, outro exemplo, de se considerar que
são medidas recessivas e que resultarão na redução da atividade
econômica e agravamento da relação da Dívida Pública versus o
PIB. Ou ainda, mais um exemplo, de se considerar que pode haver uma
degradação das condições sociais, aumento da pobreza, da
violência e da insegurança, cujas consequências refletirão em
custos de serviços públicos e aumento da dívida.
Mas,
claro, tudo isto é fruto de uma reflexão desimportante. De nada
importa que alguns reles agentes econômicos enxerguem algo diferente
do discurso oficial e estejam se antecipando às imaginadas
consequências. Afinal, a reforma proposta será a redenção de
todos os males e problemas da nação. Depois dela, choverá
investimentos, o sofrimento será transformado em regozijo e nosso
povo poderá gozar da riqueza prometida.
Acha
não?