segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sacolão Eleitoral


Sinaleiros são locais de encontros inesperados, exceto em época de eleições, quando se encontra, invariavelmente, em todos os cruzamentos da cidade, um maldito carro de algum maldito candidato com uma maldita caixa de som gritando malditas promessas vazias e um maldito número nos nossos malditos ouvidos!
Maldição era outra coisa até inventarem essas campanhas.
Como desgraça pouca é besteira, confirmando a cruel sabedoria de minha avó, um motorista à minha frente não suportou tanta maldição e, depois de amaldiçoar a mãe do candidato, meteu a maldita mão na maldita buzina de seu maldito carro, naquele maldito sinal vermelho. Não deu outra: malditos xingamentos por toda parte...
Devo ser vítima da maldição de alguma bruxa a quem devo ter feito um grande mal em outra encarnação, pensei.
Mas, apesar de tanta maldição, trafegar é preciso e os cruzamentos fazem parte de qualquer trajeto e, portanto, trafeguemos, pois será necessário transpor este congestionamento verborreico.
Sinal verde, caminho de casa.
No meu bairro, é normal ouvir o carro de som do sacolão anunciando as ofertas do dia e as qualidades das hortaliças, legumes, frutas... Isso não me incomoda, e jamais ouvi qualquer reclamação a respeito. Seria por que o sacolão me entrega aquilo que anuncia?
Em época de eleições, os carros de som dos sacolões precisam disputar audiência com os dos candidatos.
Confesso que não sei se os marqueteiros que adotam este tipo de campanha eleitoral para seus candidatos acertam ou erram. Duas razões sustentam minha dúvida: a) a reação negativa a este tipo de propaganda manifestada por muitos eleitores e; b) a baixa eficiência da mídia escolhida para este tipo de campanha. Explico: lembro-me dos preços da cebola e da batata anunciados pelo sacolão, mas não me recordo de qualquer proposta política dos candidatos que usam este tipo de anúncio.
De minha parte, tento conviver com o barulho, embora com alguma irritação indisfarçável em relação aos candidatos que lançam mão deste recurso.
Mas, e você, o que pensa fazer nas próximas eleições? Exercer o direito democrático de escolha de seus representantes ou comprar batatas?

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